Olá! Vou publicar uma matéria que escrevi para o jornal que trabalho.
Uma, duas, três horas sem beber. Assim é contada a vida de quem resiste à dependência do álcool e buscou na entidade Alcoólicos Anônimos (AA) um alicerce para continuar em frente. O lema é viver um dia de cada vez, seguido por mais 24 horas de serenidade. Em Tubarão, a organização completa 35 de atuação neste domingo (30/01).
Tudo começou em uma pequena sala, com apoio do AA de Laguna. Na sexta reunião, em 30 de janeiro de 1976, a entidade foi oficializada, através do Grupo Realidade. Um homem que desejava ajudar o irmão auxiliou a encontrar um local para as primeiras reuniões. Os materiais foram doados por integrantes de um grupo Florianópolis.
Em todos os anos de existência, é difícil determinar quantas pessoas foram ajudadas. Hoje, 60 homens e mulheres são assíduos na reunião em Tubarão. No município, são cinco grupos atuantes. Outros aparecem uma vez ou outra. Antes da década de 90, os membros chegavam depois dos 40. Hoje, vêm jovens com 22 anos.
O encontro inicia com uma prece. Mas a oração não é ofertada em um Deus específico, e sim na imagem que cada membro tem de uma força poderosa. “Nós temos que seguir em frente e aceitar a vida”, revela um dos frequentadores. O anonimato é uma das condições da associação, onde cada um compartilha sua história e dificuldades enfrentadas diariamente.
A recuperação é penosa e exige que o alcoólico reveja vários aspectos de sua vida. A dependência do álcool não é um sofrimento individual, envolve pais, filhos, irmãos, maridos e esposas. “O álcool deixa cicatrizes e marcas”, conta um participante.
“Meu nome é Francisco, estou há 19 anos sem beber
Tenho 66 anos. Durante a minha doença, o uso abusivo do álcool trouxe remorso, ansiedade, medo. Em18 anos me encontrei em uma decadência lastimável. Comecei a beber com 32 anos. Depois disso, ninguém mais acreditou em mim. Não tinha mais crédito. Eu sempre prometia a minha família que não iria mais beber. Quando se envolve com o álcool, não é fácil sair. Para parar de beber, sempre inventava desculpas. Paro quando completar 40, depois 41 e assim por diante. Perdi dois irmãos por causa do álcool. Três conseguiram parar de beber. Meu contato com minhas filhas hoje é curto. O álcool deixa cicatrizes. Elas não lembram de coisas boas, só de ruins. Antes, eu não sabia que era uma doença. Sempre vivi com pessoas que bebiam. Ganhava muita gorjeta na borracharia, mas tudo em cachaça
“Meu nome é Walmir, estou há 12 anos sem beber
Tenho 54 anos. Comecei aos 16 anos a beber. No começo, era tudo diversão. Era para tirar a inibição. Eram muitas festas e logo comecei a ter gosto pela bebida. Mas muitos amigos paravam e eu não. Eu bebia no serviço, em casa, no bar, em casa novamente. Sou casado há 27 anos. Minha esposa sofreu muito. Afetou meus filhos, as pessoas que me rodeiam, minha mãe, até os vizinhos. Depois que parei de beber, tive síndrome do pânico. O médico me disse que era relacionado à bebida. Por causa disso, tive medo de dirigir, andar, sair de casa. Aposentei-me por invalidez e vim para Tubarão. Aqui, comecei a beber 2 a 3 litros por dia de cachaça. Eu sempre estava alcoolizado. Não dormia, eu desmaiava. Só parei quando quase morri por causa do álcool. Um dia, não conseguia me mexer, prometi a Deus que se eu sobrevivesse nunca mais beberia”.
“Meu nome é Maria, estou há 16 anos sem beber
Tenho 46 anos. Eu ia para o hospício por causa da bebida. Algumas pessoas, com o uso do álcool, perdem o fígado, eu perdia neurônios. No fim, eu não conseguia contar uma história com início, meio e fim. Eu não me importava com a vida. Eu bebia à noite, acordava de ressaca, almoçava e ia beber de novo. Eu mentia para conseguir as coisas. A moral, a dignidade e a família vão para o saco. É uma doença familiar. Não tinha responsabilidade, disciplina, higiene. Quando fui internada numa clínica, conheci o AA”.